segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Cinema sem Pipoca

Tratei de logo tirar as revistas do colo e as imagens da cabeça. Estava a pensar em mim, e, por uma breve compensação de fatos, senti medo de me ouvir falar alto. Então sussurrei em meu ouvido com aquela voz fina que se usa nos convencimentos: até quando você vai agüentar isso? Você acha que vai suportar tudo sozinho? Eu me acho, digamos, difícil.

Difícil. Exatamente como ele sempre me disse que era. Mas eu nunca dei o braço a torcer sobre as minhas opiniões. Difícil, exatamente como eu sou, preferi correr o risco. Não consigo tirar a imagem dele dos meus pensamentos. De como sussurrava com aquela voz fina em meus ouvidos. Tola o bastante fui eu que me deixei acreditar, agora sou sozinha acompanhada apenas com o eco do sussurro de "eu te amo".

Amo, mas não amo tanto, confesso. Assim em seguida consigo prometer minha fidelidade - não a ela, entenda, mas aos planos que fizemos enquanto sentados sobre o cobertor da sala. É, eu me cubro de qualquer culpa. Pensei mandar-lhe uma flor sem pétalas, um cofre sem segredo, ou construir-lhe um cinema sem pipoca, mas não. Apenas eu me apresentei em sua porta, dois dias depois, como o melhor amante que poderia ter sido. Às vezes sou pequeno mesmo.

Amei-o consciente de que seria a última vez. E a primeira vez consciente depois de tanto tempo. Acho que não me importava mais se fosse ou ficasse. Preferia na verdade que nunca mais tivesse aparecido, estaria bem, apenas eu, o eco e Durval, meu gato siamês. Acordei. Já não estava mais lá. O céu chorava sobre a imensa janela da minha sala. Sentei, e sorrindo, tomei meu chá.

Ainda que tivesse partido, não tão somente o teria feito. Por mais que quisesse ir - e note: eu fui mesmo - meus pés pousavam sobre sua calçada amarela e se arrastavam como um barco sobre o mar, que deixa rastros por onde passa. Eu não conseguia sumir dali. Estava certo que ela tomaria um pouco daquele chá de camomila que deixei preparado, minutos antes de sair. Sabia que não colocaria açúcar e que não mexeria o suficiente. Sabia sobre os pelotes de açúcar esquecidos no pote. Sabia que não me perdoaria para sempre.



*Noelle Falchi e Thiago Botana

3 comentários:

noelle falchi disse...

temos que fazer mais desses ;)


s2 saudade primo!

Debora Rebecchi disse...

Não sei porque mas me lembrou o filme "Closer".
Gostei muito!

Glauco Mazrimas disse...

Textos à duas mentes e 20 dedos são fuedas.

Style malungo. Daqui a pouco perco meu posto de redator pra ti.

E sua prima também manda bem para caraleo.